A Busca de Equilíbrio na Cultura dos Excessos

Nos últimos anos, assistimos o Yoga conquistar o ocidente. O número de praticantes cresce a cada dia e a mídia está fazendo a prática oriental tornar-se familiar para nós.  A primeira “onda” do Yoga veio com o movimento Hippie, na busca da transcendência e um estilo alternativo de vida. Atualmente, a “nova onda” do Yoga surge num contexto, onde o stress e a sobrecarga definem o cotidiano das grandes cidades. Neste ambiente conturbado, o Yoga vem a preencher a carência da civilização por paz e equilíbrio.

Acredito que um dos motivos que leva a esta carência seja a cultura dos excessos vivida pelo homem moderno: o excesso de consumo, o excesso de contas, o excesso de informação, o excesso de comida, o excesso de hedonismo, o excesso de poluição atmosférica, sonora, auditiva e visual, o excesso de pensamentos, o excesso de excitação emocional, o excesso de trabalho, o excesso de ego. Enfim, a sobrecarga dos exageros que leva ao desequilíbrio.

Fazendo um contraponto a esses hábitos, o Yoga em sua filosofia e prática, vem nos mostrar outra direção: O caminho da equanimidade interna, através do qual aprendemos a relacionar com a vida com mais equilíbrio e discernimento. No Bhagavad Gîtâ (2.48), texto épico do hinduísmo, vamos encontrar a definição do Yoga como samatva. O termo sânscrito significa igualdade, regularidade, equilíbrio e harmonia. Neste sentido, o Yoga é uma técnica de harmonização que nos permite encontrar o equilíbrio nos altos e baixos da vida. Sendo um ponto de equilíbrio em nossas vidas, o Yoga nos ajuda a administrar as emoções para vencermos as inferioridades, os instintos, as compulsões e automatismos negativos; nos induz a uma profundidade e clareza de pensamentos que nos traz sabedoria; nos mostra o caminho da paz; e nos ensina a magia da transcendência, como bem retrata o Tejo Bindu Upanishad (3.1-43):

Eu Sou o supremo absoluto. Sou a suprema Bem-Aventurança. Minha forma é a do conhecimento único. Sou único e transcendente.

Minha forma é a da tranquilidade única. Sou feito de consciência única. Minha forma é a da eternidade única. Sou eterno.

Minha forma é a do Ser único. Tendo abandonado o eu, Eu Sou. Sou da essência daquilo que é despojado de tudo. Sou feito de espaço da consciência.

O Yoga busca o olhar da consciência em meio a agitação cotidiana, começando pela investigação do universo de nossos pensamentos. Patânjali, o primeiro a codificar o Yoga no séc II d.C., assim  define o Yoga: “Yoga Chitta vrrti nirodha – Yoga é a suspensão do turbilhão das ondas mentais”, ou seja, Yoga é a concentração da mente que traz calma e lucidez aos pensamentos, ampliando assim, a percepção. Ao focar a mente, podemos ultrapassar a nuvem escura dos pensamentos confusos e desordenados e alcançar uma atmosfera mental mais clara, onde a luz da sabedoria traz inspiração aos pensamentos e uma direção positiva. O excesso de pensamentos deixa a mente confusa e nos distancia de nós mesmos. Portanto, somente quando nos silenciamos é que podemos perceber a existência plena do nosso Ser.

O Yoga busca a abstração dos sentidos (Pratyahara) em contraponto aos excessos de estímulos sensoriais que sobrecarregam o sistema nervoso e provocam stress. É o recolhimento em si mesmo para aquietar a agitação provocada pelos apelos e condicionamentos vindos do mundo externo. Com isto, o Yoga nos orienta a descobrirmos o recanto da serenidade no nosso interior  e apaziguar nossos ânimos.

O Yoga também nos oferece recursos para equilibrar o corpo, as energias sutis e sobretudo a mente, nos levando a reflexões profundas sobre o Si Mesmo e o  sentido da vida. Ao praticar Yoga, você é convidado a sair do “mundinho do ego”, do excesso de narcisismo, para encontrar algo mais em sua natureza íntima. Nos ensina que na simplicidade  somos livres e que  podemos estar bem, sem precisar de muita coisa, exercitando assim, o desapego e o despojamento das coisas inúteis e insignificantes (vairagya). O Yoga, ainda, incentiva a prática de ações altruístas e da compaixão, como meio de vencermos o excesso individualismo, para nos tornarmos seres humanos melhores, em harmonia com valores éticos universais.

Por esta e outras razões, através da prática do Yoga, a alma pode se sentir viva mesmo estando na turbulência desta dimensão da vida material e encontrar, diante dos excessos da vida moderna, um pouco de paz a cada dia. Até que um dia, você descobre que a paz faz parte de sua natureza essencial, sendo assim, inabalável.

 

Adriana Braga  de Oliveira

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