Mandala

Prof. Gildo Scalco

Mandala, termo que vem do Sânscrito (uma língua que desapareceu) quer dizer círculo. Numa outra dimensão, como disse C. Jung[1]:

“Mandala significa círculo e particularmente, círculo mágico”. Da mesma forma que o “Tao, o que existe por si mesmo”, a Mandala carrega o segredo mais sutil enquanto, pela centralidade profunda e pela força de expansão, de dentro para fora, gera a vida e a essência humana. De acordo com Romeo Graziano,[2] a Mandala é considerada como a ponte para a totalidade, produzindo a harmonia, em meio ao caos pelo seu poder integrador.

É sabido que diversos povos cultivam o movimento mandalístico tridimensional há milhares de anos. No hinduismo há a prática dos “iantras” nos rituais, com base idêntica em um princípio da Mandala, que leva, ora a sair do centro (de si mesmo), ora buscar a plenitude através da centralidade. O “iantra” é um diagrama linear de combinações triangulares. Traz um ponto que é denominado de a “misteriosa gota”.

No Tibet, a Mandala tridimensional já era confeccionada há 3.000 anos. Nas comunidades tibetanas confeccionavam Mandalas toda vez que os mestres espirituais se encontravam para tomar decisões sobre transformações que achavam necessárias. As mandalas tridimensionais na Índia não só eram usadas para celebrar transformações, mas também como instrumento de oração.

Existem Mandalas na cultura grega, na cultura dos Astecas e Incas. Em todas as manifestações que envolvem povos antigos e culturas medievais há a presença de elementos fundamentais e comuns em relação à Mandala. Vejamos alguns benefícios da atividade com Mandalas:

  • A Mandala tem poderes de transformação;
  • Abre portas para o auto-conhecimento;
  • Ajuda no afloramento e equilíbrio dos sentimentos;
  • É movimento gerador de centralidade e expansão da essência da vida;
  • Na prática da manipulação, construção e meditação, possibilita reintegração e fortalecimento do ponto central da vida;
  • A Mandala também possibilita desvio de energias negativas de pontos localizados no habitat humano;
  • Ajuda no desenvolvimento da percepção;
  • Possibilita relaxação enquanto se toca ou desenha uma Mandala, etc.

Pelos seus poderes mágicos e de encantamento tem a função de mediação simbólica, quando pela sua dimensão arquetípica possibilita, ao homem ocidental, a ampliação da imaginação e organização da realidade interior e exterior.

Os múltiplos movimentos da mandala tridimensional reativam a motricidade e desenvolvem a percepção. Além de possibilitar a transmutação de energias no espaço onde ela se encontra instalada (exemplo, desviar energias negativas na entrada da casa), ao tocá-la ou desenhá-la, age como instrumento de relaxação. Pela manipulação e desenho tem função terapêutica, chegando mesmo a favorecer a reintegração psíquica de pessoas que vivem um processos de desintegração natural à formação do seu ego.[3]

Seus movimentos imprevisíveis e múltiplos, evocam imagens inconscientes da organização interior. Essas imagens reportam-nos a pequenas trilhas da fantasia que possibilitam afastar o caráter destrutivo que o ser humano tem manifestado individualmente e no coletivo. É um símbolo de conhecimento que, ao ser construído, vai espelhar o modo interior do seu construtor. Ao construir as partes e executar a montagem de uma Mandala, há, como por analogia, uma possibilidade de reorganização da própria vida do construtor. Segundo os psicólogos Ricardo H. Lessa e outros, ao construir o chamado “pé da mandala”, isto é, os elos que permitem o “abre-fecha das esferas”, possibilitou-se a adolescentes uma auto-avaliação. Daí, permite-se “uma tomada de consciência essencial à sua transformação”.[4] A dificuldade de trabalhar o pé da Mandala, segundo os psicólogos, refletia a carência de uma “base” e ou ponto de partida para que eles pudessem enfrentar a realidade, até então fragmentada.

Nas minhas experiências com a Mandala tridimensional consegui ver o efeito na liberação da fala de crianças que, na sala de aula, não conseguiam se expressar verbalmente. Após a manipulação da Mandala, por algumas horas, duas crianças se soltaram e descreveram sobre as imagens que iam formando e até mesmo solicitou a presença das professoras para falar do que haviam produzido. No trabalho de grupo, na sala de aula da Universidade, a Mandala tem circulado como instrumento de relaxação e de transformação de tensões. Procuro usá-la também na ampliação da imaginação enquanto possibilita aflorar a fantasia e transformá-la em idéias criativas.

As formas mandalísticas estão presentes na natureza: folhas, terra, montanhas, astros, primeiras moradias dos primitivos, ocas, cabanas. Encontramos a mandala em todo corpo humano. De braços abertos em movimento, para cima e para baixo, forma-se um grande círculo de mais ou menos 2 metros de diâmetro. Os olhos são mandalas; o cérebro é uma perfeita mandala de círculos concêntricos e de cores múltiplas, com predominância do róseo. As mãos têm mandalas. Mandalas são também as energias, as células e os átomos que geram o corpo físico, o corpo espiritual e mental.

 

Belo Horizonte, agosto de 2000

 

[1] JUNG, C. Gustavo. O segredo da Flor de Ouro. Petrópolis: Vozes, 1998.

[2] Texto: Mandala – ponte para a totalidade. São Paulo, 1982.

[3] Texto do “Grupo Mandala”, Associação Paulista de Tai-chi-chuam, São Paulo, 1982.

[4] Texto do “Grupo Mandala” de São Paulo.

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